Entre sem bater. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sabe que pensa

  Pedro vive há 17 anos. Lembrava melhor dos últimos 10 anos, alguma coisa dos outros 7, vagamente, já que não tinha nenhum trauma da infância. Aliás, eram tantos que preferia lembrar de cada um como algo normal, afinal, dizia ele, trauma é uma frescura. Bobagem.

  Apesar de seus dois irmãos, João e Beatriz, seus pais sabiam dar carinho para os três e Pedro percebe que esse foi o maior erro deles. Mesmo com todo carinho, já não confiava nos seus reflexos, achava que sua agilidade, observada apenas por ele, era uma consequência do seu pensamento rápido. Um garoto com 17 anos que já pensava que não era tão rápido como antigamente, nem fisicamente, muito menos mentalmente. o qual ele se importava mais. Era chato não conseguir jogar futebol com os amigos, mas é mais chato não conseguir pensar como gostaria, não ter as soluções dos problemas, não ler e não entender o suficiente. Mas o erro de seus pais nada tinha a ver com isso, já que condições para uma boa auto-estima eles davam. O erro de seus pais foi o cuidado.

  Pedro foi muito amado. E isso ele aprendeu, aprender a ser amado, mas não se achava mal acostumado, talvez por não ser, não sentia-se um garoto mimado. Ser amado era bom, mas sabia que era amado. Serviu para aprender, para ver como era gostoso e saudável ser amado. Com tanto amor, Pedro tentava retribuí-lo de todas as formas, mas não percebia que qualquer coisa era o suficiente para seus pais. Foi quando um dia percebeu o erro, aprendeu a ser amado e aprendeu muito bem, mas não aprendeu a amar. Achava que era tudo a mesma coisa e não conseguia aprender com seus erros. Era dele, cresceu assim, durante todos os dias, não conseguia mudar agora, mesmo notando o erro. Diferente dos outros problemas, era mais difícil para Pedro ignorar esse, queria tanto amar as pessoas de forma saudável que não conseguia esquecer esse erro. Não consegue deixar erros por perto e desse não conseguia se livrar. Comia-o por dentro, tirava seus momentos de tranquilidade, mas não sabia o que fazer enquanto não conseguia consertar. Com isso guardava a tristeza que causava nos outros, momentos que duram nem um segundo ou que duram meses eram arquivados na sua memória, mas sempre com uma nota ao lado: é uma bobagem, não precisa ter um trauma por isso. E ficavam por lá.

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