Entre sem bater. 

domingo, 26 de setembro de 2010

studju mejta

O cabelo castanho-claro já cobria todo o pescoço, ele ia deixar crescer ainda mais. Seus olhos, quase cinza, tinham uma certa facilidade em penetrar em qualquer pessoa que aparecesse. Vinte e três anos, mas se sentia com oitenta, experiência, velhice. Escrevia e teimava com a importância e a casualidade de cada palavra. Uma dificuldade enorme para conversar, as palavras do seu pensamento atropelavam sua língua presa. Não mais que de repente, ele sabe que todos entenderam o que quer dizer, de quem está falando e tudo mais. Pode estar em português, inglês, maltês, seu rosto, apesar de não ser muito expressivo, é muito fácil de se ler, qualquer um percebe qualquer alteração superficial nele, já fingiu tantas, que nem sabe mais quando é verdade ou não, objetos pequenos sempre são desprezados, então não fazia diferença.

Estava cansado de tudo, era inteligente, otimista, amigável, amável. Era. O cansaço faz tudo sumir, exceto ele mesmo e os amigos. Já não sabia mais o que queria, não sabia nem ao menos se um dia ele realmente quis alguma coisa, só queria que acabasse tudo. Ainda assim era muito sorridente, pois então resolveu sair com os amigos, de repente.

Passearam, conversaram, riram, mas não sentia nada. Seu amigo loiro, mais velho e com cara de europeu percebeu que havia algo errado e resolveu lhe perguntar. Respondeu que não sabia, não sabia de nada. Os amigos começaram a achá-lo muito chato, insuportável, desinteressante, mas continuaram a seu seu amigo, afinal, eles eram amigos. Ele estava consciente da sua chatice, não havia o que fazer, roubaram-lhe tudo que tinha, roubaram-lhè.

Posted via email from André's Posterous

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

42.

Nevava. As montanhas do norte o esperavam, a tempestade de neve era densa e veloz. Um homem subia a mais alta das montanhas, um homem de barba rala. Todos temiam aquela montanha mesmo em dias normais, ele achava que a resposta estava ali, e a encontrou.
- Finalmente achei o senhor. - Não enxergava nada devido a uma intensa luz, mas sabia que ele estava ali.
- A fé pode ir mais longe do que se imagina. Respondeu o ser que vinha da luz, com uma voz masculina doce e autoritária.
Eu queria saber, mas não era fé, era dúvida. Criou tudo mesmo? - Conseguiu começar a ver uma cabeça balançando, positivamente, parecia uma face comum. 
Mas então, quem criou o senhor?
- Prefiro não me fazer essa pergunta - Mas isso não lhe incomoda? - Eu gasto muito tempo com vocês, desenvolvi essa compulsão, ai não preciso pensar nessas bobagens.
- Mas então, o que eu faço? Só consigo pensar bobagem, além do senhor, os outros pensamentos não possuem uma resposta, só me deixam depressivo.
- Gaste tempo com alguma compulsão, pensar não serve para nada, meu caro. - Mas minha compulsão é o meu maior mal. Não é o pensar, é outro...
- Eu sei...
- O que eu faço então?
- Infelizmente, não tenho uma resposta.
Instantes de silêncio, o suficiente para um respirar.
- O que acontece depois?
- Não sei salvar sua vida, mas também não posso acabar com ela.
- É algo bom então?
- Qualquer resposta que eu der para você, será suficiente, até mesmo absurdos como o céu ou o inferno. Talvez nem eu mesmo saiba, mas sei o que você faria com a resposta independente de qual fosse.

A conversa acabara ali. O homem de barbas resolveu ficar mais alguns minutos naquela companhia, depois começou a descer lentamente a montanha e voltou a sua vida.

Posted via email from André's Posterous

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mamífero

Banho em casa, meu banheiro. Pós-banho. Vapor da água, um lugar pequeno que eu conheço cada cantinho, não terá nenhuma surpresa e é muito agradável, que vontade de ficar lá para sempre, nada me atinge e estou confortável, mesmo de pé, mas se quiser posso até sentar. Entendi porque demoro tanto para me enxugar, nunca deveria ter que sair de lá.

Posted via email from André's Posterous

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Terás.

O homem vai caminhando, seu chapéu na cabeça, jaqueta embaixo do braço. Sorriso largo, encantador, passeava por cidades, bairros, vilarejos, países, onde chega espalha sua felicidade. Quando faz isso, fica sem alegria, quando volta a caminhar, recupera o sorriso para espalhar sua felicidade por novos lugares. Nunca pode ser feliz com os outros, mas permanece enquanto caminha. O sol é amigável com ele, a lua, as estrelas, todos ajudam no seu caminho sem fim e sem propósito, apenas com a ideia de chegar ao final do caminhar, que ele sabe que não existe e não faz sentido.

Posted via email from André's Posterous